Infelizmente, há um aspecto bastante palpável da tecnologia cuja naturalidade e espontaneidade raramente são levadas em conta pelas pessoas: o de transformar-se incessantemente com o tempo. É mais do que óbvio que toda tecnologia passe por mudanças, tendo em vista que o homem tem a liberdade de adaptar técnicas que já tenha desenvolvido, dependendo de suas necessidades e interesses. As tecnologias, afinal, se prestam a servi-lo. Mesmo havendo essa lógica, há uma insistência geral no fato de as pessoas, a cada transformação tecnológica, seja ela qual for, espantarem-se, rechaçarem; há muitas críticas, medos, incertezas e outros sentimentos – provocados pelo novo, pelo diferente.
A tecnologia da informação, veiculada pelo uso da escrita, tem sofrido muito com esse tipo de reação num ambiente que, supostamente, deveria ser o primeiro a incorporar na coletividade a aceitabilidade ao novo: a escola. Esse é um local de difusão de valores sobre o mundo, de formação de cidadãos. Não há justificativa cabível para a escola que se recusa a inserir tecnologias recentes em sala de aula. É querer ignorar uma realidade forte demais. A era da informação é onipresente no cotidiano de qualquer pessoa civilizada (desde a hora em que acordamos, quando lemos o jornal, até irmos dormir, quando desligamos a TV). Inúmeros jovens estudantes passam o dia frente à tela do computador, batendo papo no MSN, conferindo e-mails incontáveis vezes, escrevendo dezenas de scraps, posts e depoimentos no Orkut, participando de fóruns, lendo mangás, etc., etc., etc. O professor tem o dever ético de trazer o ensino para a realidade. A potência das tecnologias da informação é gritante demais para se fingir, que não existe ou que não influencia a vida e a formação individual e social dos cidadãos. Por isso, é um atraso, uma dissimulação, não incluir, por exemplo, a computação em sala de aula.
O conceito de contextualização do ensino é distorcido nos mais refinados ambientes acadêmicos. Enquanto os educadores continuarem acreditando que uma escola que já faz uso constante de computadores na sala de aula é inovadora, a idéia de localizar o ensino na realidade permanecerá defasada. É exatamente o contrário: não é a escola computadorizada que é inovadora, mas sim a escola sem computadores que está ultrapassada. O conceito de normalidade está presente na escola que usufrui o computador plenamente, não nas outras.
O surgimento da tecnologia da escrita foi decisivo para o progresso intelectual da humanidade. Tentar barrar o fluxo de atuação dessa tecnologia pode ter resultados de proporções inimagináveis. Na própria educação, não se pensa nas repercussões sociais do ensino descontextualizado. Enquanto as aulas de Português continuarem ignorando a intensidade das tecnologias da informação, como tem ocorrido, a escola prosseguirá sendo o pilar falido no qual se sustenta a formação da própria sociedade. As tecnologias da informação não param de evoluir e tomam cada vez mais espaço na vida do homem, adaptando-se a diferentes contextos, incorporando modificações, por vezes resgatando princípios que haviam se perdido no tempo.
Os gêneros digitais da tecnologia digital podem e devem ser utilizados como recursos metodológicos eficazes para um trabalho que permita a criação de práticas reais de leitura e escrita. Hoje não basta somente saber escrever; deve-se também utilizar a escrita em ambientes ligados à tecnologia digital. Se bem aproveitada, a tecnologia digital otimiza o letramento digital. Trata-se de utilizar os computadores, a web e os gêneros desse contexto como ferramentas cognitivas para formação de leitores e produtores de textos proficientes, aptos para atuarem como cidadãos digitais, apropriando-se das mídias para analisar seu entorno, acessarem informação e apresentarem-se ao mundo por meio da escrita.
Felizmente, algumas instituições de educação já apresentam uma resposta mínima a essa forma de letramento, adotando manuais didáticos de Língua Portuguesa com algumas reflexões sobre blog, chat e outros textos digitais. É claro que o fato de os compêndios de Língua Portuguesa terem essa abordagem meramente teórica não permite aos alunos situações de interação on-line, escrever para um interlocutor real, tendo um objetivo, mas já é um passo.
Os voluntários do Texto Livre têm contribuído significativamente ao colaborar com a qualificação de documentos que visam à inclusão digital e esclarecimento do uso de softwares excelentes, mas que às vezes deixam de ser utilizados por dificuldades diversas. Isso mostra que estamos diante de uma tecnologia que veio pra ficar e melhorar cada vez mais, uma tecnologia que tem o papel de colaborar com o homem, facilitando a vida das pessoas, otimizando atividades corriqueiras, poupando tempo, aproximando-nos uns dos outros. Todos somos essas pessoas que atuam favorável ou desfavoravelmente frente à dinâmica da tecnologia. Querendo ou não, seremos vencidos pelo futuro que não espera ninguém. Ele vem chegando a seu próprio ritmo e carregado de novidades. A novidade que estamos enfrentando já está superada para muitos, para os que não temem e não param.
Nós, professores que concluímos a disciplina brilhantemente ministrada pela professora Fricke Matte na Especialização, temos a sensação gratificante de estar com essa tecnologia desmitificada e bem assimilada. Sabemos que podemos e devemos fazer parte da história do futuro, utilizando a web os recursos de softwares livres para ensinar uma escrita que faça sentido, que tenha um interlocutor, um objetivo, uma escrita real – e certamente vamos batalhar por tudo isso.
Jul/2008.